Projeto de restauração ecológica e educação ambiental em praças públicas de Arraial d’Ajuda

Praças Vivas da Mata Atlântica

Autoria: Associação Verdejar d’Ajuda e Fernando Damasceno, Biólogo e mestre em Ciências Ambientais

1. Introdução

Arraial d’Ajuda, distrito histórico de Porto Seguro (BA), guarda um patrimônio ambiental ligado à Mata Atlântica de tabuleiros costeiros, um dos ecossistemas mais ameaçados do Brasil. No entanto, a urbanização crescente reduziu drasticamente a presença de espécies nativas em praças e áreas públicas, substituídas por espécies exóticas e ornamentais.

Este projeto propõe unir pessoas físicas, empresas locais, poder público e organizações não governamentais em uma ação colaborativa de reflorestamento das praças de Arraial d’Ajuda, com espécies nativas da Mata Atlântica. A iniciativa alia restauração ecológica, educação ambiental, paisagismo sustentável e geração de serviços ecossistêmicos, como o sequestro de carbono e a produção de alimento para a avifauna.

A implementação de melhorias paisagísticas em espaços tombados como patrimônio histórico deve aliar a preservação da memória cultural à valorização ambiental e estética do local. O uso criterioso de espécies nativas e de técnicas sustentáveis de paisagismo contribui para reforçar a identidade histórica da área, ao mesmo tempo em que promove conforto ambiental, sombreamento, enriquecimento da biodiversidade e maior integração da comunidade com o espaço público. Dessa forma, a restauração paisagística não apenas qualifica a experiência dos visitantes e moradores, mas também fortalece o papel do patrimônio como elemento vivo, capaz de dialogar com as demandas contemporâneas de sustentabilidade e bem-estar coletivo, sem perder sua autenticidade e relevância histórica.

2. Justificativa

Perda de biodiversidade urbana: Muitas espécies nativas desapareceram dos centros urbanos, restringindo o contato da população com a flora local.

Em todas as praças do distrito de Arraial d’Ajuda, as árvores atualmente presentes já se encontram em idade avançada e muitas delas caminham para o fim de seu ciclo de vida, o que representa risco de perda da arborização urbana nos próximos anos. Essa realidade torna urgente a introdução de novas mudas, capazes de assegurar a continuidade da cobertura vegetal e das projeções de sombra tão essenciais ao conforto térmico e à qualidade de vida nos espaços públicos. A estratégia deve contemplar também espécies nativas de estágio sucessional avançado, que se desenvolvem melhor sob sombreamento parcial, recriando condições ecológicas que favorecem tanto a renovação paisagística quanto a restauração da biodiversidade local.

Abaixo são listados os principais benefícios da restauração da arborização da praça;

  • Avifauna e dispersão de sementes: Diversas aves frugívoras dependem de árvores nativas para se alimentar e, em contrapartida, dispersam sementes, ampliando a regeneração natural.
  • Educação ambiental: Praças com vegetação nativa funcionam como salas de aula a céu aberto, sensibilizando moradores, turistas e estudantes.
  • Serviços ecossistêmicos: A arborização nativa contribui para o microclima urbano, sequestro de carbono, sombreamento e melhoria da qualidade de vida.
  • Paisagem cultural: A restauração ecológica valoriza o patrimônio histórico de Arraial d’Ajuda, em harmonia com as diretrizes de conservação paisagística da região.

3. Objetivos

3.1 Objetivo Geral

Restaurar praças públicas de Arraial d’Ajuda com espécies nativas da Mata Atlântica de tabuleiros costeiros, promovendo biodiversidade, serviços ecossistêmicos, educação ambiental e envolvimento comunitário.

3.2 Objetivos Específicos

  • Reintroduzir espécies nativas desaparecidas dos centros urbanos.
  • Garantir oferta de alimento para avifauna, incentivando a dispersão de sementes.
  • Envolver escolas, moradores e turistas em atividades de educação ambiental.
  • Integrar empresas e ONGs em ações colaborativas de responsabilidade socioambiental.
  • Criar um modelo replicável de praça ecológica urbana para outros bairros e cidades.
  • Quantificar e comunicar o potencial de sequestro de carbono das áreas restauradas.

4. Metodologia

4.1 Seleção de áreas

            Como projeto piloto foi selecionada a Praça Brigadeiro Eduardo Gomes, localizada em frente à Igreja Matriz Nossa Senhora d’Ajuda. A escolha desse espaço se justifica pela urgente necessidade de reintrodução de espécies nativas, visto que a praça apresenta atualmente grande quantidade de elementos exóticos ao ecossistema local e diversas árvores em fase de senescência, comprometendo sua função ecológica e paisagística.

Além de sua importância ambiental, a praça possui um papel histórico, cultural e simbólico de grande relevância para o distrito, pois remete ao período dos tropeiros que percorriam longas distâncias vindos de diferentes regiões do Brasil para participar do cortejo da Padroeira na igreja matriz. Essa memória coletiva reforça a necessidade de um projeto paisagístico que respeite a identidade histórica do lugar, ao mesmo tempo em que o prepara para os desafios contemporâneos de conservação e sustentabilidade.

Por sua representatividade e pelo estado evidente de necessidade de melhorias, a Praça Brigadeiro Eduardo Gomes foi definida como a primeira fase do projeto de restauração ecológica e paisagística das praças de Arraial d’Ajuda, servindo como modelo de integração entre patrimônio histórico, biodiversidade nativa e bem-estar comunitário.

4.2 Planejamento ecológico

O Levantamento de espécies nativas típicas da Mata Atlântica de tabuleiros costeiros, considerou diversos fatores concluindo entre vários aspectos as espécies abaixo;

  • Jequitibá-rosa (Cariniana legalis) – Uma das maiores árvores da Mata Atlântica, símbolo de longevidade e monumentalidade.
  • Pau-brasil (Paubrasilia echinata) – Símbolo nacional, árvore histórica ligada ao início da colonização do Brasil, de madeira avermelhada e flores amarelas.
  • Jatobá (Hymenaea courbaril) – Árvore de grande porte, resistente, de madeira nobre e fruto comestível.
  • Ipê-amarelo (Handroanthus albus) – Amplamente conhecido como símbolo do Brasil, de floração marcante.
  • Sapucaia (Lecythis pisonis) – Frutos grandes em forma de “pote”, muito simbólica na cultura popular.
  •  Buranhém (Pradosia lactescens) – Árvore de grande porte, produtora de látex, muito característica da Mata Atlântica, fornece sombra e alimento para fauna, além de dar nome ao principal rio de Porto Seguro.
  • Peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron) – Símbolo da devastação da Mata Atlântica, hoje ameaçada, representa a necessidade de restauração e preservação.
  • Jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra) – Uma das madeiras mais valorizadas historicamente, espécie símbolo do extrativismo colonial, hoje em risco crítico de extinção.
  • Guapuruvu (Schizolobium parahyba) – Uma árvore da família das fabáceas, notável pela sua velocidade de crescimento que pode atingir 3 metros por ano, chegando aos 20 metros,sendo a árvore nativa brasileira de mais rápido crescimento
  • E outras…

4.3 Mobilização comunitária

  1. Campanhas educativas e de sensibilização.
  2. Mutirões de plantio envolvendo voluntários, escolas e empresas.
  3. Oficinas de identificação botânica e monitoramento de aves.

4.4 Implantação e manutenção

O plantio será realizado pela Biólogo e mestre em Ciências Ambientais Fernando Damasceno, que possui equipe técnica equipamentos e muita prática em reflorestamentos costeiros.

Manutenção inicial (irrigação, coroamento, replantio de mudas perdidas), será realizada pelo Instituto verdejar com apoio financeiro da comunidade e empresas locais.

As plantas serão protegidas por grades de madeira que possuirão a logomarca dos patrocinadores.

4.5 Monitoramento e avaliação

  • Registro fotográfico e técnico do crescimento das mudas.
  • Avaliação de sobrevivência e desenvolvimento das espécies.
  • Monitoramento de aves visitantes.
  • Estimativa do sequestro de carbono.

5. Resultados Esperados

  • Praças urbanas reflorestadas com alta diversidade de espécies nativas.
  • Aumento da presença de aves frugívoras e consequente dispersão de sementes.
  • Envolvimento direto da população local em atividades ambientais.
  • Melhoria da paisagem urbana e do microclima.
  • Contribuição para metas globais de carbono neutro.
  • Formação de corredores ecológicos urbanos.

6. Público-Alvo

  • Comunidade local de Arraial d’Ajuda.
  • Escolas municipais e estaduais.
  • Turistas interessados em turismo sustentável.
  • Empresas locais comprometidas com ESG.
  • ONGs e instituições ambientais.

7. Parcerias e Governança

  • Pessoas físicas: participação voluntária nos mutirões.
  • Empresas: apoio financeiro, logístico ou doação de mudas.
  • ONGs: assistência técnica, mobilização comunitária e educação ambiental.
  • Órgãos públicos: cessão das áreas e acompanhamento institucional.

8. Cronograma

Mês 1-2: Diagnóstico e planejamento.

Mês 3-4: Mobilização comunitária e seleção de mudas.

Mês 5-6: Implantação do reflorestamento (mutirões).

Ano 1-2: Manutenção e monitoramento contínuos.

9. Orçamento

  • Aquisição de mudas nativas.
  • Insumos (substrato, adubo, hidrogel, ferramentas).
  • Produção de materiais educativos.
  • Custos de mobilização e comunicação.
  • Monitoramento técnico.

10. Considerações Finais

O projeto propõe transformar praças de Arraial d’Ajuda em espaços vivos de conservação da biodiversidade, conectando história, cultura, ecologia e sociedade. Ao unir moradores, empresas e ONGs, cria-se um modelo participativo de restauração urbana que fortalece a identidade local e gera benefícios ambientais e sociais duradouros.

Figura 1: Na Praça observa-se a presença de um tamarindeiro (Tamarindus indica), espécie exótica de origem africana/asiática, atualmente em estágio avançado de senescência.
Figura 1: Na Praça observa-se a presença de um tamarindeiro (Tamarindus indica), espécie exótica de origem africana/asiática, atualmente em estágio avançado de senescência.
Bromélia epífita (Bromeliaceae), conhecida popularmente como “aninha”, que se desprendeu dos galhos envelhecidos de um flamboyant (Delonix regia) em processo de senescência. Esse episódio evidencia tanto a fragilidade estrutural da árvore hospedeira, já em declínio, quanto a importância ecológica das bromélias como micro-habitats em ambientes urbanos, onde funcionam como reservatórios de água e refúgio para insetos, anfíbios e aves. A queda reforça a necessidade de manejo adequado da arborização exótica envelhecida, garantindo segurança, mas também a oportunidade de reaproveitar os indivíduos epífitos em substratos adequados ou em árvores nativas reintroduzidas na praça, assegurando a continuidade desses importantes elementos da biodiversidade.

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