Insonia Verde – S.O.S. Altas do Japara

Olá, pessoal.

Estou aqui sem poder dormir, novamente pensando no risco das matas altas do Japara virem ao chão, por conta da “pressão imobiliária”, de uma corrida pelo lucro. Aproveito a presença de alguns corretores imobiliários no grupo para lançar um sincero apêlo, uma tentativa de seguir com a conscientização, o chamado à responsabilidade daqueles que atuam no setor imobilário nesta região.

Sabemos que existem menos de 5% de Mata Atlântica em pé, no Brasil. O sul da Bahia é “hot spot”, concentra muitíssimas espécies típicas de Mata Atlântica.
Porto Seguro já foi motivo de orgulho por ser uma cidade verde, e nos últimos anos carreg a vergonha de ser campeã de desmatamento, por conta da chamada pressão imobiliária.

Temos visto escancaradamente, por todo Arraial, Trancoso, Caraíva, Cabrália, Porto em si, novas ruas sendo abertas sem qualquer cuidado; loteamentos brotando para todos os lados. De um dia a outro, a mata vem ao chão, novos piquetes marcam “lotes à venda”.
É doloroso ver o quanto a ganância humana nos torna cegos… Fica evidente que as pessoas não enxergam que já existe ali, nesses “loteamentos”, muita “gente” habitando. Existem as árvores, e toda a gama de vida animal (pra dizer o mínimo) que com elas cohabitam.
Tenho literalmente visto veado, cobras, tamanduá mirim, raposas desesperados, perdendo suas casas. Diariamente ouço os macacos guigós, pregos e saguis gritarem, às vezes desesperados, ouvindo os tratores e motosserras por perto.

Tenho rogado aos céus que “alumeie” as consciências, porque o ritmo de devastação é assombroso, avassalador. Uma árvore cresce muito lentamente, e leva décadas, até séculos, para estar altaneira. Em minutos, vai ao chão. Temos visto isto em larga escala, por todo lado. São tempos sombrios.

Aqui no Japara, temos uma das três áreas da região que ainda têm mata em avançado estágio de regeneração. Japara + Parque Nacional do Pau Brasil + Reserva da Veracel. O Japara não é uma Unidade de Conservação, e está sob intensa ameaça da especulação imobiliária.

Esta área é de suma importância para diversas espécies, incluindo o Guigó e a Coruja Orelhuda, para citar duas que estão na lista nacional dos ameaçados de extinção.

Volto a perguntar: qual a responsabilidade dos corretores imobiliários na preservação destas áreas? Vocês conseguem ver? É bastante clara, não?

Aqui ao meu lado há um terreno onde vivem enormes árvores. Por bastante tempo, perdi o sono (como hoje), com medo de que a qualquer momento alguém comprasse o terreno e, achando-se dono da terra, descartasse tudo o que ali existe.
Depois de alguns anos tentando, consegui que a proprietária, que mora fora do Brasil, vendesse o “lote” para uma amiga, escolhida a dedo, para preservar a área (isso porque não tenho o $, ou teria comprado tudo eu mesma, para deixar a mata em pé). O valor da negociação: o dobro do que um amigo pagou há apenas 8 meses em lote igual aqui, mas enfim, é o mercado, e tudo foi organizado. Ufa! Resolvido, ao menos esse pedacinho, tão significativo por sua mata alta? Estava, mas…A proprietária, de fora do país, entrou em contato com imobiliárias locais… E foi convencida a “esperar valorizar mais”.

Render mais dinheiro, pura e simplesmente.
Renderia dinheiro agora, e asseguraria a preservação, para todo mundo, de uma importantíssima área de Mata Atlântica.

Recebi essa notícia com profunda tristeza, e o senso de urgência em batalhar pela educação e conscientização dos corretores imobiliários, sobre seu papel crucial no desenrolar do que se dá na nossa região de Porto Seguro.

É preciso mostrar a gravidade do desmatamento, a grave mudança do clima, a extinção de espécies, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS, da ONU), a Década da Restauração.

Estamos numa corrida contra o tempo. Para muitos, é uma corrida para ganhar mais e mais dinheiro, com propósitos egocentrados e que não reverberam no bem comum. Para outros, é uma desesperada corrida pela vida, pelo respeito à sagrada existência da natureza, complexa e abundante. Somos parte dela. É clichê, mas parece que ainda não entendemos: acabar com ela é acabar com a gente, simples assim. Não estamos separados das matas, só nos esquecemos de quem somos: seres de floresta.

Possamos nos lembrar disso.

Com amor, deixo o apêlo para que imobiliárias, corretores imobiliários acordem para seu papel, que inclui guardianar toda esta terra. Seu discurso, ao oferecer vendas para qualquer pessoa, é determinante para o destino de toda esta região, das espécies que aqui vivem e do tipo de cidade que será desenvolvida.

Claro, o planejamento urbano, plano diretor e toda essa efera precisa ser olhada e reformada. Mas aqui trago o chamado para os agentes diretos ali, na venda.

QUE HAJA LUZ EM SUAS CONSCIÊNCIAS.
Que se saibam guardiões.

Gratidão,

Ilana Lewinsohn.

(Sou bióloga, educadora, escritora, terapeuta. Mas é como ser humano, que falo. Este é meu lugar de fala, aqui).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.