Uma carta de Natal diferente

PARA TODOS NÓS e MAIS AINDA AOS “DONOS” DE TERRAS.

A chuva forte me acordou. Volto a dormir? Não consigo. Pensar nas árvores indo abaixo leva embora o sono.

A palavra que ronda os maus sonhos é destruição. Afinal, nossas crianças estão tendo roubado o direito de uma vida sem o pesadelo de não saberem até que ponto chegaremos como humanidade. É a primeira geração que convive de muito perto com a concreta possibilidade de nos extinguirmos, que cresce em um mundo grotesco, apesar de generosamente belo em seus aspectos naturais.

Os adolescentes estão doentes de ansiedade e depressão, por não terem horizontes. Não encontram sentido neste mundo bizarro que vem sendo criado por nós, desde a primeira revolução industrial. O ritmo de destruição da Terra só cresceu desde então, à guisa de produzir mais, consumir mais, ter mais, mais, mais… E aumentar nosso lastro de descuido sobre a Terra. Nunca os índices de suicídio foram tão elevados! Quem é responsável por isso? SOMOS TODOS! Que mundo estamos cocriando?? Que mundo estamos permitindo, motivando, nutrindo? O quê estamos alimentando dentro de nós mesmos??

Por que será que os que se acham donos de terras se creem no direito de derrubar matas e eliminar animais aos montes, sem perceberem a importância de deles cuidar? Claro que a responsabilidade não é só deles, mas é muito! Assim como também é, em grande escala, das imobiliárias e corretores de imóveis e da administração pública, entre outros, mas hoje quero falar mais diretamente aos que se entendem donos de terras.

Muitas vezes parece que só enxergam dinheiro. Dinheiro e mais dinheiro, parece mesmo ser só o que enxergam. São detentores – em maior grau, visto que somos todos – da responsabilidade de zelar pela vida, enquanto têm o poder – conferido pelo dinheiro – de preservar a vida, de, por exemplo, criar parques onde a vida seja reverenciada, onde todos os seres ganhem verdadeiramente. Sim, porque o verdadeiro ganho não é um punhado de dinheiro no bolso de uma pessoa cuja ganância é sem limites! É tempo de enxergarem que só há ganho quando existe respeito à vida, quando as árvores (fonte de beleza, de alegria, de ar, de água, de sombra, de frutos, de abrigo, de alimento a inúmeros seres para além de nosso umbigo!) são reverenciadas, quando os animais também são lembrados como parte de nossa existência, quando as águas são honradas como algo sem o quê sequer a nossa sobrevivência é possível!!!

Até quando os “donos de terras” vão se achar no direito de derrubar tudo para construir mais ruas, mais casas, sem perceber que não são donos do futuro e que sua ganância rouba a sanidade das novas gerações??

Todos nós estamos de passagem. O dinheiro é poeira ao vento. Ele traz poder e possibilidades, é fato. Ainda é, neste sistema em ruínas. E qual o legado que deixaremos para as próximas gerações?

Só estar dentro da Lei não basta. Ser legal não necessariamente significa ser ético ou moral, infelizmente, porque as Leis também foram feitas por seres humanos cuja consciência como indivíduos planetários é rasa, ainda. As Leis estão defasadas.

Quero aqui pedir que os que se entendem por “donos” de terras percebam que são meros guardiões. Somos todos passageiros. Somos todos guardiões da Terra – ou deveríamos ser.

O tom de destruição que impera não condiz com o lugar de guardião. Quanta presunção, achar que somos de fato donos de alguma coisa! “Do pó viemos e ao pó voltaremos, lembremo-nos!”. Pó!

Por que todos só pensam em destruir a vida e fazer loteamentos para mais destruição se dar? Picotar e picotar o chão, assassinar toda a vida presente… O que estão criando neste lugar? Querem transformar esta região – de Porto Seguro, Arraial dAjuda, Trancoso, Caraíva – em mais uma feia cidade litorânea, jogando fora o que de mais precioso há por aqui!

Temos ainda a possibilidade de ser algo diferente!

Então falo diretamente com os que são guardiões de terras com matas, onde vivem árvores altaneiras e milhares de animais (estamos na floresta mais biodiversa do planeta! Cada metro quadrado vale muito em vida, muito mais que em cédulas do banco central!): que se faça a consciência de sua responsabilidade; que olhem de frente para ela e possam assumir escolhas e caminhos diferentes.

Há outras possibilidades.

E se você já tem bastante dinheiro (muitos dos “donos” de terras têm, e querem mais e mais e mais), sua responsabilidade é ainda maior.

A Terra é uma só.

Os efeitos da ganância de uns poucos já são sentidos por muitos e se não mudarmos o padrão de destruição, em breve serão sentidos por todos. TODOS.

QUANTO VALE O PESO DE SER UM AGENTE DE DESTRUIÇÃO?

QUANTO VALE A CONSCIÊNCIA DE SABER QUE FAZ TUDO O QUE ESTÁ AO ALCANCE PELO BEM DE TODOS, RECONHECENDO-SE PARTE DE UMA TEIA ONDE TUDO ESTÁ INTERCONECTADO?

QUANDO ASSIMILAREMOS QUE SÓ HÁ FELICIDADE REAL QUANDO SE CULTIVA O BEM DE TODOS?

Rogo por lucidez, por boa educação, por consciência.

E sigo pedindo perdão pela ignorância humana, e pela ação desses que são mais responsáveis por nos levarem buraco abaixo. A natureza mostra: o que se planta é o que se colhe.

QUE O AMOR VENÇA A GANÂNCIA.

Às vésperas do Natal de 2022.
(Que ironia será falar em esperança estes dias. E como ela é necessária! Esperancemos, pois).

Ass: um ser humano.

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